A TERCEIRA VIDA DE LEONOR AGORA COMO TREINADORA

  • Janeiro 3, 2020
Na passagem de ano, Ana Rita Silva, Vítor Santiago e Leonor Sousa Dias tiveram desejos bem concretos além dos fundamentais “saúde”, “paz” e “amor”. Vítor, 58 anos, certamente pensou na reentrada na sociedade após sete anos desempregado como cuidador da mãe e da irmã. Leonor irá a todo o gás em direção à terceira carreira como treinadora mental. E Ana Rita prepara-se para o ritmo palpitante de uma nova vida na Suécia, com o marido.

Texto de António Pedro Pereira

A TERCEIRA VIDA DE LEONOR AGORA COMO TREINADORA

Jurista, não. Professora, já não. Coaching? Porque não? Leonor, 50 anos, vai começar a terceira carreira agora como treinadora mental de crianças e jovens.

Podendo viajar no tempo e no espaço, Leonor Sousa Dias optou por uma terceira via depois de abraçar as duas em simultâneo e separadamente. Recomeçar a vida profissional aos 50 anos. Após um curso de Direito quase não exercido e outro de Ciências da Educação com 17 anos de ensino no 1.º ciclo país fora. Em 2020, vai abrir empresa, tornar-se patroa e mudar de carreira – treinadora mental de crianças. A história do bicho-do-mato que adiou anos o “um dia vou viajar” e num ímpeto de segunda-feira comprou uma viagem a Marrocos que ainda hoje está a percorrer.

“Em 2020 vou tornar-me coach. Vou constituir empresa. diz Leonor Sousa. (Fotografia por Álvaro Isidoro/Global Imagens)

“A primeira viagem que fiz. Eu pedia sempre os catálogos e dizia que um dia… Uma segunda-feira inscrevi-me e fui a Marrocos, uma viagem ao deserto. Tremia como varas verdes. Éramos seis, um casal e três raparigas e um rapaz, estes quatro ainda fazem parte do meu grupo de amigos. Foi em 2002”, diz Leonor, nascida no Porto em maio de 1969, mas a viver em Lisboa.

Coincidiu com o início da segunda e mais duradoura carreira (até agora), a de professora do 1º ciclo. “Fui para Direito aos 18 anos, depois casei-me e divorciei-me. Ainda tentei o Direito, mas não era mesmo aquilo. Seria uma péssima advogada de tribunal. Para professora, fui no seguimento de uma pergunta da minha mãe: “Já que gostas de crianças, porque não dar aulas? Fiz o curso e estive na profissão 17 anos. Dar aulas pode ser maravilhoso, mas pode ser horroroso. Dar aulas a crianças pode ser um inferno. No ano passado dei-me conta de que a vida estava a passar e eu estava fechada numa sala de aulas. E não tinha problemas – estava no quadro desde o segundo ano. Mas estava a murchar e o conforto estava-me a baralhar. Só tinha prazer nas viagens”, explica Leonor. “Pensei ir para Enfermagem depois do Direito. Mas se a divertir-me custa-me aguentar as noites, imagine-se a trabalhar” ,acrescentou.

“Em 2020 vou tornar-me coach. Vou constituir empresa, a página na internet está a ser construída”, diz.

“Quando chegou a faculdade percebi que havia dois ou três cursos que podia aguentar. Mas o mundo mudou tanto que até a sabedoria que os nossos pais nos transmitiram não serve de nada”, justifica-se sobre as mudanças de rumo que foi tomando na vida. “Em setembro, pedi licença sem vencimento porque foi possível pedi-la”, junta.

E eis que vem um ano inteiro e limpo: “Em 2020 vou tornar-me coach. Vou constituir empresa, a página na internet está a ser construída”, diz.

“Fiz uma certificação internacional em coaching de alta performance em janeiro. São três dias intensivos. Há umas semanas, fiz uma certificação no Porto com o coach Ricardo Frade e em janeiro vou fazer uma certificação dada por formadores que trabalhavam na Lego e se autonomizaram. É a Lego Serious Play, certificada pela Association of Master Trainers. Dá-me o direito de treinar e de certificar no futuro. E em fevereiro tenho outra formação, certificada pelo Brendon Burchard, que trabalhou com a Oprah, o Obama, etc. Mas a grande responsável por esta mudança é Susana Torres, mediaticamente conhecida pelo trabalho desenvolvido com o futebolista Eder, que marcou o golo que garantiu à seleção portuguesa o título europeu em 2016 na final frente à França.

Susana é especializada em treino mental no desporto de alta competição e dá umas formações que Leonor frequentou – aliás, a de fevereiro será ministrada pela ilustre coach“Este ano vai ser o da mudança. Não conseguia fazer este processo sozinha. Não somos nada sem os outros. Se conseguiu com o Eder, também consegue comigo. Tirar-me do banco e meter o golo do euro”, ri-se a trepidante professora em vias de se tornar treinadora.

Com Susana Torres, Leonor separou o trigo do joio. Apesar de alguns acessos de cólera. “Sabia o que não queria. E essencialmente com o coaching da Susana agora sei o que quero. Somos as piores pessoas para nós. Retirar algo para mim aqui de dentro foi uma odisseia. Com ela, fui pela abordagem artística. Colagens e interrogações na tela. Pergunta da Susana, que até me deixou zangada uns dias: “Porque é que não fazes uma escola aproveitando coisas boas do ensino? Gostas de viajar, podes fazer um projeto nos PALOP. Fiquei com os espinhos todos de fora”, diz às gargalhadas, assumindo paradoxalmente que tomar decisões ainda é um processo doloroso. Sim, até para quem vai na terceira carreira e correu as sete partidas do mundo.

“Numa sessão com a Susana, respondi que na educação não me distingo em nada. Sou boa na relação e na comunicação com os miúdos. Disse-me: “Considerando nestes meses todos em que estamos a trabalhar, há aqui uma questão: recebo propostas para trabalhar com miúdos mas não tenho tempo, tu tens o conhecimento.” Era coach à Mourinho, a Mourinha. Era a forma de orientar aquela malta toda”, prossegue Leonor. “Com alguma raiva e quando passou percebi que não era servido descabido o que me disse”, assente.

E em janeiro a treinadora de mentes para crianças ganhará contornos mais efetivos. Entretanto: “Nunca tive coragem para dar o passo em frente para desenhar. Neste momento, estamos a fazer ilustrações para um grupo de apoio a crianças com cancro.”
Para já, está em viagem por Angola. E na Páscoa estará na peugada de Charles Darwin entre a Colômbia e o Equador. Aí vai Leonor.

 

fonte life.dn.pt

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